Ensaio sobre a gratidão (na maternidade e na vida)

   
Acho que não há nada mais bonito do que um filho, após uma vitória pessoal ou profissional na vida, lembrar de agradecer mãe
.
Porém, a cada ano que passa (e me adentro nas profundezas balzaquianas dessa vida rs), eu venho pensando o quanto esse sentimento, conhecido por gratidão, pode ser traiçoeiro e frustador, quando ele esperado pela parte do outro.

Parece difícil para o ser humano, um tanto quanto egoísta já por natureza, impedir esse ímpeto de doar sem pensar em receber, quando na verdade não é nada assim tão complexo. Pois se você fez um bem, um favor, uma doação para o outro, e isso foi um ato voluntário que te trouxe uma satisfação plena e confortável, que te proporcionou um agradável “quentinho no peito”, então na verdade, você não fez isso apenas pelo outro, você também fez isso por você.
Se na vida, a espera fixa por esse sentimento já te pode trazer tamanho descontentamento, não creio que possa ser diferente em relação da maternidade.
Seria muito hipócrita e equivocada se dissesse a vocês, que como mãe eu nunca disse nem nunca direi: “Nossa, fiz isso com tanto carinho pra você e você nem ligou…” Sim, nós mães não nos contemos em dizer esse tipo de coisa, mas isso não quer dizer que possamos de fato nos fixar em esperar sempre manifestações de graditão de nossos filhos.

Me perguntaram uma vez, no desenrolar de um papo sobre reconhecimento, se eu não me arrependeria um dia de ter deixado de trabalhar fora para ficar com os meninos em casa. E minha resposta foi baseada numa análise sincera que fiz antes de tomar tal decisão. Sem mencionar os benefícios incontáveis e vantagens para eles de ter uma mãe mais presente, eu pensei também em mim. Na minha insegurança em deixá-los com uma pessoa desconhecida, na minha incerteza em deixá-los numa escola em período integral, na minha análise de que o meu dinheiro não pagaria toda a tercerização, na minha vontade em ficar com eles, no meu prazer em cuidar da casa. Ou seja, eu também fiz esse opção POR MIM. Então me diga, seria justo “jogar na cara” de uma pessoa algo que nós optamos também pelo nosso próprio benefício?

Então você pensa que não se deve ensinar gratidão aos filhos?
Pelo contrário, eu acho que o sentimento de graditão deve e pode ser aprendido por eles a partir da graditão que você sente por alguém, não pela imposição ou pela cobrança.
Não acredito em receitas  de felicidade tabeladas, mas acredito que o exercício diário de se desprender de anseios por retribuições alheias possa sim trazer um grande bem estar as pessoas.

Pense que a gratidão deve vir sempre de você, e se um dia por ventura, ela vier do outro, em sua direção, vier de alguém que você ama incondicionalmente, abrace-a como um travesseiro macio, desfrute-a lentamente, e depois agradeça.

Um comentário em “Ensaio sobre a gratidão (na maternidade e na vida)

  1. Penso nisso sempre, Cynthia, até por causa da minha atual situação. É difícil, pois tenho uma certa ansiedade quanto à isso, mas acho que esse desprendimento é essencial. Mas, será que somos tão evoluídos a esse ponto? Sempre estamos esperando algo… e mesmo com as decepções, percebo que existe uma certa insistência…

    Adorei o post!
    Um beijo,
    Re

  2. Ah Cy… vc exercitando seu lado mais poético e que eu adoro ver aqui nos posts…
    uma reflexão que vale muito para você e para todas as mães e pessoas que fazem para os outros.
    Penso igual! Faço por eles mas faço porque me faz bem!
    beijos
    Le

  3. Que coisa mais linda, Cynthia! Já pensei tanto nisso mas nunca consegui ordenar as palavras e os sentimentos. As coisas que faço pelos filhos, faço também por mim. Faço porque sinto prazer, porque me sinto feliz e não para cumprir uma obrigação. Não porque mãe-tem-que-fazer-isso. Justamente por isso, não espero nada em troca.

    A parte que vc falou sobre a escolha de ficar com eles, foi perfeita. Também fiz minha escolha assim, nesses moldes. Agora, as pessoas não entendem o nosso jeito de ser feliz. Na verdade, as pessoas se usam como parâmetros pra tudo. Quando uma pessoa me diz isso, ela está falando muito mais de si, do que de mim e das minhas escolhas. =)

    Amei essa reflexão. Passarei o dia pensando.

    Beijo

  4. Penso como você, que a gente não deve fazer o bem esperando que os outros sintam gratidão por você. Faço por mim, se um dia alguém me agradecer irei ficar mega feliz. Se não… fazer o quê! Fiz para me sentir feliz!
    Beijos
    Adriana

  5. Penso com você, gratidão se aprende!Fico muito chateada, pois uma pessoa solícita até demais e nem sempre recebo uma palavra ou um gesto de gratidão de volta…mas lendo o seu post, vou me trabalhar e dizer…eu fiz por mim!Beijos!!

  6. OI Cynthia, muito lindo o seu texto. Eu já escolhi trabalhar fora pensando principalmente nas meinhas filhas, não por questões materiais, mas pelo meu temperamento. Eu preciso de me sentir independente, então trabalhar é fundamental para eu me sentir equilibrada e ser uma mãe equilibrada. Então a escolha foi pensando nelas e em mim também. Mas sinceramente eu também já pensei e falei: eu me desdobro, trabalho fora e faço de tudo para ser presente, para estar em casa, para dar atenção e coisa e tal. A doação é feita e na verdade espero receber algo em troca que é a felicidade delas, já que elas serem feliz me faz feliz. A frustração bate mais quando me sinto mais cobrada ainda. Aí dá aquela sensação de falta de reconhecimento. É muito importante a gente ensinar aos filhos a gratidão e estar sempre refletido no que a gente espera.
    Um ótimo final de semana pra vocês
    beijos
    Chris
    Inventando com a Mamãe
    #amigacomenta

  7. Que profundo Cynthia!!! Adoro quando você publica textos assim (já te falei *-*)
    Eu também fiz a mesma opção que a sua e sinceramente esse texto me deixou sem palavras. É um pouco do que eu pensava e sentia e mais ainda. Acho que nessa vida são tão pouca as coisas que fazemos e não nos arrependemos e tenho certeza que essa abdicação é uma delas.
    Cuidar dos meu filho, vê-lo crescer, brincar com ele, ri e chorar juntos, cuidar da minha casa ainda que cansativo e do marido, ser amiga, companheira, conselheira, saber que quando eles precisem sempre vou está ali é uma forma de ser grata a vida, a Deus, por tudo que tenho e não há dinheiro no mundo que me faça tão feliz.
    Amei o texto!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Beijos

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